NOVENA À BEATA MARIA CLARA DO MENINO JESUS
De 22 a 30 de novembro
Para todos os dias
Pelo sinal ✞ da Santa Cruz, livre-nos Deus ✞ nosso Senhor, dos nossos ✞ inimigos. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amem.
Oração ao Divino Espírito Santo
Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso Amor.
V/. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado.
R/. E renovareis a face da terra.
Oremos: Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, concedei-nos, segundo o mesmo Espírito, conhecer as coisas retas e gozar sempre das Suas consolações.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Amem.
Ato de Contrição
Meu Deus, de todo o coração me arrependo dos meus pecados; odeio-os e detesto-os porque ofendem a vossa infinita Majestade e são causa da morte do vosso Divino Filho, Jesus Cristo, e da minha ruína espiritual. Proponho nunca mais cometê-los no futuro e fugir sempre das ocasiões de pecar.
V/. Senhor, tende misericórdia e perdoai-me.
R/. Senhor, tende misericórdia e perdoai-me.
Meditação para cada dia da novena
Primeiro dia
A Vós, toda a honra e toda a glória, pelos séculos dos séculos. Amem.
Glorifiquemos a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, pelo dom das vocações de especial consagração, que Mãe Clara acolheu com radicalidade e, como instrumento de Deus, fez ecoar no coração de tantas jovens.
«Aproximando-se de Jesus um jovem, perguntou-Lhe: “Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?” Jesus respondeu-lhe: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no Céus. Depois, vem e segue-me”» (Mt 19, 16. 21).
A Beata Maria Clara do Menino Jesus, filha de Dona Maria da Purificação e de D. Nuno Galvão Mexia, nasceu em 25 de junho de 1843 na Quinta do Bosque, situada no termo da atual cidade da Amadora. No batismo, celebrado na igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, realizado a 2 de setembro de 1843, recebeu o nome de Libânia do Carmo Galvão Mexia de Moura Telles e Albuquerque.
Seus pais, ambos “nobres troncos” de famílias aristocratas, “ainda mais ilustres pelos sentimentos que pela nobreza do sangue”, aos seus sete filhos, entre eles Libânia do Carmo, “procuraram dar uma educação verdadeiramente cristã”.
Depois da prematura morte dos pais, Libânia esteve cinco anos entregue aos cuidados das irmãs Filhas da Caridade que o Dom Pedro V mandou vir de França para dirigirem a Obra que criara para os órfãos de nobres vítimas da cólera e da febre amarela. O contacto com as Filhas da Caridade desperta nela o chamamento de Deus para a vida Religiosa, que depois aprofundou com o Padre Raimundo dos Anjos Beirão.
Mas Deus quis que a sua vocação fosse provada pelo luxo e pela ostentação… Durantes vários anos viveu no palácio do Marquês de Valada, onde foi “adotada” como filha pela Marquesa, Dona Maria Isabel, filha dos Duques de Lafões. No meio de tanto esplendor, naquele rodopio de festas, passeios e receções com a melhor fidalguia de lisboa, na decadente e permissiva sociedade da segunda metade do século XIX, qualquer jovem se deixaria iludir. Mas Deus tal não permitiu, e até parecia estar a preparar Libânia para a missão que lhe tinha reservada, entre os pobres. Na verdade, muito úteis lhe viriam a ser nos tempos da penúria material, estas amizades que granjeou entre a fidalguia. Por outro lado, foi através da Marquesa de Valada, que Libânia conheceu o Padre Raimundo Beirão.
Libânia do Carmo tinha 24 anos quando ouviu o “vem e segue-Me” de Jesus. Ao contrário do “jovem rico”, imediatamente deixou o Palácio do Marquês de Valada para seguir Jesus… ajudada pelo Padre Raimundo!
Neste dia da novena à Mãe Clara, suplica-lhe que interceda por todos os jovens a quem Deus quer chamar ao sacerdócio, à vida religiosa ou a viverem como consagrados à sua vocação laica; para que sejam prontos na resposta e permaneçam fiéis Àquele que os chamou.
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Segundo dia
A Vós, toda a honra e toda a glória, pelos séculos dos séculos. Amem.
Glorifiquemos a Deus Pai, Filho e Espírito Santo por Jesus Eucaristia, de Quem a Mãe Clara fazia o seu alimento, vivendo em íntima comunhão com Ele e dando-se aos irmãos, num permanente sacrifício der de louvor ao Pai para a vida do mundo.
«O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: “Isto é o Meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de Mim”. Do mesmo modo, […] tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é a Nova Aliança no Meu sangue; […] todas as vezes, pois, que comerdes este pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor até que Ele venha» ( I Cor 11, 23-26).
Convidados por Cristo a participar na Eucarística, vamo-nos transformando no alimento que recebemos, diz Santo Agostinho. Neste sentido, o Papa Francisco afirma: “enquanto nos une a Cristo, arrancando-nos dos nossos egoísmos, a Comunhão nos une a todos aqueles que são um só n’Ele. Eis o prodígio da Comunhão: tornamo-nos aquilo que recebemos!” Bento XVI disse-o por outras palavras ainda mais incisivas: “Quem reconhece Jesus na Hóstia Santa, reconhece-O no irmão que sofre, que tem fome e sede, que é forasteiro, nu, doente, encarcerado; e está atento a cada pessoa, compromete-se, de modo concreto, com todos aqueles que estão em necessidade”.
A Irmã Maria Clara - na altura a pequena Libânia do Carmo – terá feito a sua primeira comunhão, entre partida do irmão Ruy e a da mãe para o Céu, pouco antes de perfazer 13 anos de idade, pelo ano 1855. Frequentava com assiduidade a catequese na sua Paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Benfica onde, diz o cronista, “se apresentava aos domingos, de mãos dadas com a inseparável irmã, a Matilde. […] Deve ter feito, nesta época a primeira comunhão. A partir daí, tornou-se uma enamorada da Eucaristia, desse Deus que se reparte em amor e misericórdia, tão perto dos pobres e dos mais pequenos! Diziam alguns familiares, que os Pais se enchiam de consolação ao verem a sua piedade tão genuína”.
Quem comunga o Corpo do Senhor, e n’Ele se transforma, não consegue esquivar-se a acolher os outros como irmãos, membros do mesmo corpo, especialmente quando estão fragilizados pela miséria, pela doença ou pela solidão. No dia da sua Primeira Comunhão a vida eucarística da irmã Maria Clara do Menino Jesus!
Neste dia da novena à Mãe Clara, suplica-lhe que, lá do Céu. Te alcance a graça de uma devoção cada vez maior “ao Jesus escondido” na sagrada eucaristia, devoção que leva, como aconteceu com a irmã Maria Clara, a uma vida eucarística.
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Terceiro dia
A Vós, toda a honra e toda a glória, pelos séculos dos séculos. Amem.
Glorifiquemos a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, pela vossa Palavra de Deus que a Mãe Clara escutava na oração, testemunhava com as obras e transmitia com a vida.
«Prega a Palavra, inste a tempo e fora de tempo, repreende, corrige, exorta com toda a paciência e doutrina…» (2ª Tm 4, 2).
Tempos difíceis se viviam em Portugal… Os levantamentos militares criavam um clima de quase guerra civil e a queda dos governos sucediam-se. As propriedades usurpadas à nobreza miguelista e os bens roubados à Igreja com a expulsão das Ordens Religiosas, eram insuficientes para alimentar a despesa pública.
Na Igreja a situação não era igualmente caótica… as dioceses, em virtude da corajosa recusa dos bispos em se tornarem Pares do Reino para não terem de jurar a Carta Constitucional, eram governadas por clérigos “lacaios” do regime. Estamos a falar daquilo que acontecia no reinado de Dona Maria II, durante o qual nasceu a irmã Maria Clara e dos tempos que se seguiram. Os tempos da irmã Maria Clara!!! Em 1834, dias depois da Convenção de Évora Monte, o ministro da justiça, Joaquim António de Aguiar, redigia o decreto que lhe valeu o nome de «matafrades»: determinava a imediata extinção de todas as casas religiosas e a incorporação dos seus bens na Fazenda Nacional. “Muitos religiosos saíram cobertos com mantas e descalços; os próprios doentes e paralíticos tiveram que abandonar o leito das enfermarias”. As congregações femininas foram proibidas de admitir noviças, embora pudessem permanecer até à morte da última religiosa.
A irmã Maria Clara recebeu a Palavra de Deus no seio da sua família e, por graça de Deus, nela perseverou e a anunciou mesmo nas circunstâncias mais adversas, por palavras e, sobretudo, pela caridade vivida. Ela foi, no seu tempo, uma manifestação clara da eficácia da Palavras de Deus; como Maria Santíssima foi “mãe” e “irmã” de Jesus, por isso bem-aventurada, por ter acolhido a Palavra, a ter vivido e a ter anunciado.
Neste dia da novena à Mãe Clara suplica-lhe que, lá no Céu, interceda por ti para que, em todas as circunstâncias, a Palavra de Deus seja a orientação fundamental da tua vida e, corajosamente, a anuncies a tempo e fora de tempo.
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Quarto dia
A Vós, toda a honra e toda a glória, pelos séculos dos séculos. Amem.
Glorifiquemos a Deus Pai, Filho e Espírito Santo por Jesus, o Bom Samaritano, com Quem a Mãe Clara se identificou, ao passar pelo mundo fazendo o bem e realizando as obras de Misericórdia em favor de todos os pobres e desvalidos.
«Um samaritano, estando de viagem, chegou aonde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele» (Lc 10, 33-34).
Jesus, o Bom Samaritano da Humanidade: bela inspiração para a irmã Maria Clara… As irmãs Hospitaleiras, no último terço do século XIX, disseminadas por todo o país – onde era preciso estar… - trabalhavam em 45 hospitais, 26 colégios, 15 asilos de inválidos, 14 asilos de infância e 6 cozinhas económicas. A Congregação irradiou também para o Ultramar, por vezes a pedido do próprio Governo, o qual, apesar do decreto de 1834, que determinava o fim da presença em Portugal dos institutos religiosos, aceitava a presença das congregações dedicadas à assistência, à educação e às missões ultramarinas. Neste contexto as irmãs prestaram serviço nos hospitais de Bolama, Goa, Luanda e Ilha de Santiago.
O aumento constante e extraordinário do número de irmãs permitia à irmã Maria Clara atender as solicitações que lhe iam chegando das mais variadas procedências. A tabela estatística da Congregação nos primeiros trinta anos é reveladora. As religiosas professas passaram de 3 em 1871, para 150 em 1880, 355 em 1890, e 468 em 1900.
Como o exemplo Jesus, o Bom Samaritano, desinstalou a Mãe Clara, seja ela uma inspiração para ti. Deixa de fazer conjeturas sobre quem deve intervir naquelas situações de pobreza que, para nossa vergonha, se multiplicam entre nós. Faz tu o podes fazer; sendo possível de forma organizada, melhor.
Hoje, neste dia da novena à Mãe Clara, suplica-lhe que, lá do Céu, te alcance a graça de ousares a “fantasia da caridade”.
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Quinto dia
A Vós, toda a honra e toda a glória, pelos séculos dos séculos. Amem.
Glorifiquemos a Deus Pai, Filho e Espírito Santo pela vida escondida de Jesus em Nazaré, que a Mãe Clara procurou imitar através do seu serviço humilde e dedicado aos seus irmãos e irmãs.
«Morto Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, e disse-lhe: “levanta-te, toma o Menino e Sua Mãe e vai para a terra de Israel […] Ele levantou-se e voltou para a terra de Israel […] para a região da Galileia. Foi habitar numa cidade chamada Nazaré… » (Mt 2, 19-23).
Maria e José, com seu Menino, entretanto nascido, regressam a Nazaré. Provavelmente os seus vizinhos falam entre si sobre o que se terá passado desde que foram até Belém, recensear-se. Mas mantêm um certo recato sobre o assunto. Alegram-se com o regresso, tanto mais que o casal vem com um Menino lindíssimo. Acolhem-nos e José estabelece-se como artesão. Vivem uma vida de família e de trabalho como os demais da povoação. Coisas muito importantes acontecem através de meios pobres, numa vida de gente pobre, sem qualquer visibilidade: Jesus santifica o trabalho na carpintaria de José; torna o trabalho e a vida comum, meios de santificação; santifica a vida familiar.
É à luz destes anos da vida oculta de Jesus em Nazaré, que a Mãe Clara entende o que se passa com ela e com as irmãs que, em cada vez maior número se juntam à sua volta, na congregação que nasce do carisma do Padre Raimundo e da inabalável confiança da Fundadora na divina Providência. No convento de São Patrício faltava tudo, até mesmo camas para todas as irmãs, já mais de uma centena. A comida não era abundante e, não raro, faltava mesmo o indispensável. Por vezes as contas acumulavam-se sem haver mesmo como as saldar.
Apesar de tantas dificuldades quantas coisas tão importantes – como em Nazaré nos anos da vida escondida de Jesus - estavam a acontecer. Por exemplo, o “milagre” da alegria na vida daquelas que continuavam, “por amor de Deus”, a atender os pobres e infelizes e a mendigar para eles o sustento de cada dia. No fim da vida, a Irmã Maria Clara ainda escrevia: “A misericórdia de Deus nunca nos falta, mas dinheiro pouco ou quase nenhum se tem”.
Neste dia da novena à Mãe Clara, suplica-lhe que, lá no Céu, interceda por ti para que nunca te falte a confiança na Providência divina.
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Sexto dia
A Vós toda a honra e toda a glória pelos séculos dos séculos. Amem.
Glorifiquemos a Deus Pai, Filho e Espírito Santo pelo Coração Sagrado de Jesus, que cativou o da Mãe Clara em tão profunda união de sentimentos e afetos, que a levou a encarnar a Sua imensa ternura para com os pequenos e os fracos, e a derramar o Seu amor sobre todos os necessitados.
«Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas» (Mt 11,29).
Não raro a devoção ao Sagrado Coração de Jesus acaba numa devoçãozinha cheia de sentimentalismo. Por isso, alguns cristãos mais “amadurecidos”, a reservam às mulheres por serem mais sentimentais… Temos, contudo, como modelo da verdadeira devoção ao Coração de Jesus, antes de mais, a Virgem Maria, depois, outras grandes mulheres, entre elas, a Mãe Clara. A Mãe de Jesus, cujo coração bate ao ritmo ao Coração do Filho, e a Mãe Clara imagem viva do Coração de Jesus através da sua vida… foi, podemos dizê-lo, o Coração de Jesus a bater no meio do mundo. Tantas vezes repetiu a jaculatória: “Jesus manso e humilde de Coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso”, que acabou por se identificar com Ele em gestos de misericórdia e de acolhimento para com os mais necessitados, os mais pobres, os cansados e angustiados de nossos dias.
Só quem, como a Mãe Clara, tem um coração semelhante ao Coração de Jesus pode viver em Deus e conviver com os irmãos numa relação que é convite a descansar e a encontrar repouso no amor. A irmã Maria Clara e as suas irmãs de carisma, são o que a Igreja deve ser: um coração humano com as mesmas características do Coração de Jesus, capaz de amar, perdoar, acolher os pobres e necessitados… capaz de sentir o que o outro sente.
Neste dia da novena à Mãe Clara, suplica-lhe que, lá no Ceu, te alcance a graça da transformação do teu coração num coração semelhante ao Coração de Jesus, um coração que cura, que resgata a vida através do amor, do cuidado e da compaixão.
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Sétimo dia
A Vós, toda a honra e toda a glória, pelos séculos dos séculos. Amem.
Glorifiquemos a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, por Jesus Crucificado, cuja Paixão a Mãe Clara quis reproduzir em si, pelo carregar silencioso da Cruz de cada dia, pela aceitação generosa dos sofrimentos e humilhações e pelo perdão incansavelmente oferecido a todos os que a ofendiam e magoavam. Cruz gloriosa da nossa Salvação, que a Mãe Clara carregou com alegria.
«Então Jesus disse aos Seus discípulos: “Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me”» (Mt 16, 24).
Ao longo da vida, a irmã Maria Clara passou por enormes provações… Pensemos no início da sua adolescência… em menos de dois anos, perdeu a mãe, o pai e o irmãozinho mais novo. Depois, na sua estadia no Asilo Real da Ajuda, criado pelo rei Dom Pedro V, no Palácio Velho, para acolher os órfãos das famílias da nobreza vitimadas pelas epidemias da época: a cólera e a febre amarela. Era dirigido pelas Filhas da Caridade que, para o efeito, o rei mandara vir de França. Neste período da sua vida, aos 19 anos, faz uma outra experiência de orfandade: a sua irmã Matilde Henriqueta, que a morte da mãe unira como se fossem uma só, ingressou nas irmãs Visitantinas. Agora, cada uma delas deveria seguir o seu caminho.
Libânia estava cada vez mais afeiçoada às religiosas do internato que, por influência da maçonaria, foram expulsas, regressando ao seu país. De novo órfã, a nossa Libânia, desta vez das religiosas que partiram… Ainda outra orfandade haveria de conhecer quando chegou a hora do Padre Raimundo Beirão partir para o Céu: foi no dia 13 de julho de 1878. A irmã Maria Clara teve de assumir por inteiro o governo das Irmãs da Caridade do Padre Raimundo, como eram conhecidas, embora a sua designação fosse Associação das Irmãs Hospitaleiras dos Pobres pelo Amor de Deus.
Como qualquer um, seja seguidor de Jesus ou não, a irmã Maria Clara passou por provações ao longo da sua vida. Muitas provações! Porém, ela nunca as confundiu com a cruz que deveria carregar para seguir Jesus… Essa Cruz – a Cruz Gloriosa! - que ela carregou com alegria e total disponibilidade, foi renunciar à sua vida, à sua vontade, aos seus projetos, para ser totalmente de Jesus.
Dela, uma irmã dá o seguinte testemunho: “Como os santos, a Mãe Clara também sofreu quase desde o berço ao túmulo (mas principalmente durante os seus últimos anos) grandes tribulações, grandes sofrimentos, grandes amarguras que atrozmente e traiçoeiramente lhe vinham de perto e de longe, originadas dentro e fora da Congregação!... E a sua atitude, no meio desses angustiosos sofrimentos e tribulações que tantas vezes martirizavam a sua alma e abreviaram a sua vida, foi heróica como a dos santos e, como eles, em todas as circunstâncias, se conservou firme, inabalável e cheia de confiança em Deus!”
Neste dia da novena à Mãe Clara, suplica-lhe que, lá do Céu, te alcance a graça de permanecer firme nas provações da vida, mas, sobretudo, a graça de querer sempre aquilo que Deus quer!
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Oitavo dia
A Vós, toda a honra e toda a glória, pelos séculos dos séculos. Amem.
Glorifiquemos a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, pelo Amor com que nos amais e nos converte em instrumentos desse Amor, como aconteceu com a Mãe Clara.
«Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, amai-vos também vós uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros» (Jo 13, 34–35).
A irmã Maria Clara iniciou a sua caminhada de entrega definitiva a Deus, consagrando-se na Ordem Terceira de São Francisco, sob a orientação espiritual do Padre Raimundo. Recebeu o hábito de Capuchinha em 1869, com o nome de Irmã Maria Clara do Menino Jesus. Impedida de o fazer em Portugal, fez o noviciado em França, nas irmãs Hospitaleiras e Mestras de Calais. “Fundada no amor e crescendo à sombra da cruz”, foi admitida aos votos públicos que fez em 14 de abril de 1871, regressando a Portugal daí a uns dias, a 1 de maio, para dar início, com o Padre Raimundo, à Congregação das Irmãs Hospitaleiras dos Pobres pelo Amor de Deus. Fundou a primeira comunidade, em São Patrício, a 3 de maio daquele ano e, cinco anos depois, a 27 de março de 1876, a Congregação era aprovada pela Santa Sé.
Durante o tempo em que foi Superiora Geral, abriu mais de 100 obras e recebeu mais de mil irmãs. Através das irmãs, a Congregação procurava estar presente e atuante em todo o lugar onde houvesse o bem a fazer. No meio dos sofrimentos de toda a espécie: na solidão, na doença, na perseguição de que foi alvo, na incompreensão e na calúnia. A irmã Maria Clara soube manter-se sempre fiel a Deus e à missão que Ele lhe confiara. A 29 de outubro de 1899, um mês antes de falecer, manifesta exprimia assim o seu abandono e confiança: «Apesar das mais cruéis amarguras, contradições e desgosto, vejo um olhar providencial de Deus que vela sobre nós». Viveu em constante serviço alegre e generoso a todos. Sem exceção. Desculpava e perdoava a todos, com caridade e fé heroicas. Àqueles de quem recebia maiores ofensas servia de joelhos.
Convicta de que "nada acontece no mundo sem permissão divina", tudo recebia como vindo das mãos de Deus: pessoas e acontecimentos, dores e alegrias, saúde e doença. A única razão de ser da Congregação deveria consistir em: servir, animar, acolher e aconchegar a todos. Iluminar e aquecer. A hospitalidade. Viveu toda a sua vida numa esperança e confiança inabaláveis. Nada possuindo além do amor de Deus em Cristo Crucificado, que ela experimentava em todos aqueles a quem chamava a "minha gente".
Neste dia da novena à Mãe Clara, suplica-lhe que, lá do Céu, te alcance a graça de experimentar o amor de Deus na Tua vida, para que, deixando-te amar por Ele, te transformes em instrumento do Seu amor.
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Nono dia
A Vós, toda a honra e toda a glória, pelos séculos dos séculos. Amem.
Glorifiquemos a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, pelo “faça-se” da Virgem Maria, que inspirou a Mãe Clara a aceitar todas as coisas, pessoas e acontecimentos, para fazer sempre a vontade de Deus.
«Voltaram para Jerusalém, do monte chamado das Oliveiras, que dista de Jerusalém a jornada de um sábado. Assim que chegaram, subiram ao cenáculo, onde permaneciam habitualmente Pedro e João, Tiago e André, Felipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago. Todos perseveravam unânimes em oração, com algumas mulheres e com Maria, Mãe de Jesus, e com os Seus irmãos» (Atos 1, 12-14).
O “faça-se” da Anunciação, repetiu-o Maria Santíssima todos os dias da sua vida. É o mesmo “faça-se” do encontro com Cristo, na rua da Amargura, carregando a Cruz a caminho do Calvário; é o “faça-se” reiterado quando Jesus lhe dá como filhos todos nós, na pessoa do discípulo amado; é o “faça-se” que diz no cenáculo quando, rezando com os discípulos, os prepara para o Pentecostes.
A Mãe Clara aprendeu com a Mãe de Jesus a dizer “faça-se” em todas as circunstâncias da sua vida. Foi batizada na igreja paroquial de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica, a 2 de setembro de 1843. Desde então, viveu identificada com Cristo. Nas provações da infância, quando ficou órfã da mãe, vítima de tuberculose, a mesma doença que, exatamente um ano antes, tinha vitimado Ruy, o mais novo dos sete irmãos. Libânia do Carmo, nome que recebera no batismo, ia ainda completar 13 anos. No despertar para vida religiosa, com a ajuda do Padre Raimundo; no noviciado em Calais; ou na fundação da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição (CONFHIC). Sempre o “faça-se” de Maria que na Mãe Clara, como em qualquer cristão, é o fruto apetecido desta pertença a Cristo.
Na hora da morte, a passagem desta vida à vida plena, Deus faz a cada um o último chamamento… é a oportunidade daquele “faça-se” que nos alcança o Céu. Foi assim com irmã Maria Clara. O médico que assistia já tinha prevenido: “A Madre Geral tem o coração derretido; assim não pode viver”. Porém continuava a fazer todo o seu habitual trabalho do governo da Congregação. No dia 1 dezembro, primeira sexta-feira do mês, levantou-se um pouco mais cedo. No início da tarde desceu à sacristia para se confessar e, em seguida participou nas cerimónias próprias das Primeiras Sextas-Feiras. Com uma devoção especial, por se cantar pela primeira vez a Ladainha do Sagrado Coração de Jesus”. No regresso ao quarto, por volta das 5 da tarde, terminou a sua peregrinação neste mundo. 1 de dezembro de 1899. A Mãe Clara tinha 56 amos! A 21 de Maio de 2011, é beatificada: A Igreja dá graças a Deus por esta mulher ímpar que fez da sua vida um “faça-se” ao que o Senhor lhe foi pedindo. Roga por nós, Mãe Clara!
Repousa hoje na Cripta da Capela da Casa Mãe da Congregação, em Linda a Pastora, onde acorrem inúmeros devotos a testemunharem as graças recebidas.
Neste dia da novena à Mãe Clara, suplica-lhe que, lá no Céu, interceda por ti para que faças da tua vida um “faça-se” permanente à vontade de Deus.
Oração final para cada um dos dias da novena
Mãe Clara, pelo amor que tiveste a Jesus Eucaristia e para glória do Seu Santíssimo Nome, pela filial confiança em Maria, a Mãe das Dores, e para exaltação da sua Conceição Imaculada, confio-me à tua proteção; suplico-te a cura de… (nome) e atende as preces de quantos pedem a tua intercessão junto de Deus. Amem.
Pai Nosso, Ave Maria, Glória
V/. Jesus Misericordioso, que nos destes a Beata Maria Clara do Menino Jesus como apóstola da ternura e da misericórdia do Pai,
R/. Jesus, eu confio em Vós!
Cónego Armando Duarte
Basílica dos Mártires, Memória Litúrgica de Santa Isabel da Hungria, novembro 2022